Falecido no domingo (7) aos 78 anos, Franz Beckenbauer, um dos poucos campeões mundiais como jogador e como treinador, entrou para a história ao revolucionar a sua posição como zagueiro-central. 

Antes de Beckenbauer, recorda Sylvain Kastendeuch, ex-líbero do FC Metz, "os defensores tinham a função de destruir ou impedir jogadas. Ele trouxe uma dimensão ofensiva e técnica que não existia. Ele tinha a visão e a habilidade para construir o jogo".

"A partir de Beckenbauer", continua ele, "o líbero conseguiu criar um aporte ao ataque. Ele foi um precursor". 

Foi durante as décadas de 1960 e 1970, enquanto a Holanda de Ajax e Johan Cruyff transformava o futebol ao torná-lo "total", que o alemão dois vezes vencedor da Bola de Ouro levou a uma nova dimensão essa posição de líbero, originalmente imaginada no futebol italiano. 

Antes da revolução do 'Kaiser' (imperador), o defensor que jogava nesta posição atuava uma faixa atrás dos seus parceiros, logo à frente do goleiro, como uma espécie de última barreira. Beckenbauer, revelado como meio-campista, foi adiantado, à frente da defesa, como principal criador do jogo.

Bixente Lizarazu, muito próximo de Beckenbauer, que o trouxe para o Bayern Munique em 1997, quando era dirigente, explica: "Na Alemanha, numa defesa de três ou cinco, havia dois zagueirões - defensores 'à moda antiga' que interceptavam os atacantes - e Beckenbauer, na qualidade de líbero, iniciava jogadas após a recuperação da bola". 

"Ele conseguia isso graças à excelente técnica. Jogador, combinou qualidade de passes e lançamentos. Não era apenas técnico, era um excelente zagueiro", continua o ex-lateral-esquerdo, campeão mundial (1998) e europeu (2000) com a seleção francesa e vencedor da Liga dos Campeões (2001) com o Bayern.

Entre os 10 melhores do mundo

"Ao lado de Cruyff, ele era meu ídolo", lembra o zagueiro Maxime Bossis, que jogou 76 vezes pela seleção francesa. "Ele era uma referência em sua posição, onde interceptava as trajetórias dos atacantes adversários e se posicionava como primeiro volante. É sem dúvida um dos dez melhores jogadores da história". 

"Depois dele", continua Kastendeuch, "vimos volantes se tornarem líberos, como Lothar Matthäus, mas com menos elegância. Beckenbauer combinava elegância, estética, fair play levado ao extremo e a raça. Ele tornou mais nobre a posição de líbero através de seu comportamento. Nisto ele foi muito inspirador". 

Graças, em particular, à revolução que fez na posição de líbero, Franz Beckenbauer se tornou a primeira estrela do futebol a jogar em uma posição defensiva. 

Uma aura nunca negada e perpetuada no final da carreira de jogador. 

"Franz personifica o sucesso global e total", explica Lizarazu. "Não apenas como jogador, mas como treinador, dirigente, consultor, homem de imagem. Acho que ele enriqueceu mais depois de sua carreira como jogador. Ele era eclético e bem-sucedido em tudo o que fez". 

"Eu lamento", diz Bossis, "por nunca ter jogado contra ele. Só tive oportunidade uma vez com uma seleção internacional que iria enfrentar o New York Cosmos onde ele jogava, mas o Nantes não me liberou naquela ocasião".